Cidade é responsável por mais da metade das 12 mil toneladas do molusco produzidas em Santa Catarina.
A 20 anosos pescadores de Palhoça, na região metropolitana de Florianópolis, encontraram no cultivo do mexilhão uma saída para a crise da pesca convencional no litoral sul brasileiro. Nem todos aderiram à aquicultura no remanso da Ilha de Santa Catarina, antigo Desterro, hoje Florianópolis, mas a grande maioria dos ex-pescadores palhoçanos cria Perna perna, o mais popular dos mariscos bivalves (de duas conchas).
No Pontal da Palhoça, a comunidade pesqueira mais próxima da capital, aos pés do Morro Cambirella, junto a um posto de pedágio da BR-101 que dividiu em dois o município, o pioneiro da maricultura foi José Manoel de Souza, membro da família mais antiga deste lugar onde o sobrenome Souza batiza várias ruas.
Seu Zé Mané ia mal na pesca quando, em 1991, foi desafiado por técnicos do governo a implantar uma fazenda de mexilhões a partir de sementes fornecidas pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e com assistência da Epagri, a empresa estadual de pesquisa agrícola. Ele topou, e a mudança deu certo. Hoje, a maricultura catarinense sustenta mais de 4 mil pessoas, gerando receita de mais de 30 milhões de reais por ano.
Em Palhoça, como em outros polos de maricultura como Penha e Laguna, SC e Niterói, RJ, todas as atividades ainda são artesanais. A única exceção, iniciada há três anos pela Marpesc, é uma pioneira máquina de lavagem de mexilhões – um cilindro giratório inspirado numa lavadora de cenouras. Além de poder lavar quatro toneladas de marisco por hora, a máquina separa em um tanque as sementes de mexilhões, um avanço numa atividade que maricultores cansaram de limpar mexilhões manualmente em esteiras fixas.
"Além da mecanização é necessário novas formas de baratear insumos e ferramentas de cultivo dos mexilhões. Todos os materiais vêm de reciclagens – nenhuma delas gratuita. Os cabos coletores de mariscos, feitos de redes velhas, de sacos de cebola e de batata e de embalagens de laranja, custam 3,95 reais por metro. Ultimamente se descobriu o bom proveito das telas de proteção de obras de edifícios. Cada boia de plástico de dez litros, descartada por indústrias de bebidas e margarina, custa 6 reais", diz o secretário de Maricultura e Pesca de Palhoça, Flávio Martins.
Pelos cálculos de Martins, já valeria a pena até comprar uma extrusora de boias, a fim de fornecê-las aos maricultores de Palhoça e arredores. "As cordas de fibra ou de aço são compradas no comércio ou em indústrias. As estacas de fixação dos cabos vêm de madeireiras, construtoras ou de produtores rurais. E o quilo das “camisinhas” plásticas de proteção às sementes de mexilhões custa 30 reais". conclui Martins.
Além do gasto permanente com a manutenção e a renovação de materiais perecíveis, Martins também comenta que o maior custo da maricultura é a mão de obra, que passa o dia se deslocando da água para o barracão, operando batelões com motores, e em épocas de maturação, é preciso ainda manter um vigia noturno numa casinha flutuante entre as boias. O cuidado com os ladrões de mariscos foi redobrado nos últimos anos, quando Palhoça se tornou responsável por mais da metade (6,5 mil toneladas por ano) da produção de mexilhões de Santa Catarina (12 mil toneladas por ano).
''Antes da explosão da maricultura, os únicos predadores com os quais era preciso conviver eram os do mar – baiacus, gaivotas e tartarugas," desabafa Martins.
''A produção é vendida para compradores de São Paulo, Itajaí, Curitiba e Laguna, o mexilhão pode ser colhido o ano todo, mas a produção atinge seu auge no período que se estende de outubro a março, quando se verifica o pico das desovas. É nessa época que os mariscos adultos alcançam seu maior tamanho (8 centímetros de comprimento e 15 gramas de peso líquido) e rendem o maior volume de sementes, que resistem apenas 24 horas fora da água do mar.''
Martins explica ainda que, "quando expelidas das conchas, as sementes ficam boiando, sem afundar além de 25 centímetros da superfície. Colhidas e colocadas no berçário ou em cativeiro na beira d’água, permanecem por lá de 30 a 40 dias, até o transplante para os cabos coletores definitivos, onde desempenham o papel biológico de filtrantes."
É também no verão que os aquicultores são melhor remunerados pelo produto fresco, O ciclo do mexilhão pode durar de sete meses a um ano, dependendo das condições do tempo e do lugar. Em Palhoça, as “fazendas” obedecem a uma metragem padrão de 60 metros por 200 metros. Entre elas, é obrigatório deixar uma faixa de 200 metros para a navegação.
O local ideal para o cultivo são as águas calmas de baías e enseadas. Quanto mais mornas, maior o rendimento. Muita chuva prejudica a produção, pois reduz temporariamente a salinidade ideal. Enxurradas vindas dos morros também são danosas. O vento sul é desfavorável, e o frio um veneno, pois os mexilhões são muito sensíveis a quedas de temperatura. O aumento de calor, ao contrário, desencadeia as desovas. Lições dos que dominam há duas décadas o negócio.
E nesta semana aconteceu a entrega das mais de 60 autorizações expedidas pela Secretaria de Maricultura e Pesca de Palhoça delimitando a área marinha a ser explorada pelos maricultores do município. Reinvindicação de 20 anos dos maricultores. “Fizemos um esforço para regularizar todos os que estavam listados como maricultores ativos na Prefeitura de Palhoça. É mais uma vitória conquistada com suor e muito empenho por parte dos funcionários. O controle deste tipo de atividade assegura o reconhecimento da qualidade do serviço entregue ao consumidor, e este é nosso objetivo”, explicou Flávio Martins.
O evento que marcou a regularização da maioria dos maricultores palhocenses e contou com a presença do Secretário Nacional da Pesca, José Seiff Júnior.
“Palhoça é ouro em produção de mariscos e prata em produção de ostras, considerando todo o Brasil. Isso nos colocar num lugar privilegiado”, afirmou o prefeito de Palhoça, Eduardo Freccia.
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