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Crise no setor de pescado brasileiro expõe fragilidade da dependência dos EUA como principal mercado

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O recente anúncio da tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre o pescado brasileiro escancarou um problema estrutural que há anos vem sendo negligenciado: a perigosa dependência do setor de exportação nacional de um único destino comercial. A medida americana, que praticamente inviabiliza as vendas para aquele país, expôs a falta de diversificação de mercados e colocou toda a cadeia produtiva do pescado em estado de emergência.


A resposta imediata da Associação Brasileira das Indústrias de Pescados (Abipesca) foi solicitar ao governo federal uma linha de crédito emergencial entre R$ 800 milhões e R$ 900 milhões, como tentativa de evitar o colapso do setor. O apelo, feito por carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, evidencia não só a gravidade da situação atual, mas também a ausência de planejamento estratégico para lidar com choques externos previsíveis.


De acordo com o presidente da Abipesca, Eduardo Lobo, o impacto da tarifa já atinge toda a cadeia produtiva. "Nosso socorro precisava ocorrer 'ontem'. É um plano emergencial de resgate para um setor que vai quebrar", declarou à CNN. A fala, embora dramática, confirma o que analistas já apontavam: o Brasil concentrou quase 70% de suas exportações de pescado nos EUA, tornando-se refém de decisões unilaterais daquele país.


Em 2024, a previsão era alcançar US$ 600 milhões em exportações, sendo dois terços desse total provenientes do mercado americano. Com a nova alíquota tarifária, a estimativa já foi revista para baixo, com possível perda imediata de pelo menos US$ 200 milhões. Isso significa, na prática, fábricas paradas, empregos ameaçados e produtores à beira da falência.


Ausência de alternativas e miopia comercial

Enquanto outros setores exportadores brasileiros – como os de café, carne e suco de laranja – contam com demanda estrutural e diversificada, o pescado sofre com uma limitação comercial crônica. Segundo Lobo, os EUA suspenderam os pedidos quase que automaticamente, migrando para fornecedores da América Central. “A cadeia produtiva ficou travada”, admite.

A nova tarifa foi a mais alta já aplicada contra produtos brasileiros. E a indústria aquícola, mais vulnerável e menos capitalizada que outros setores, foi a que sentiu o golpe mais duramente. “Se subir para 60% ou 80%, já não faz mais diferença. Perdemos a competitividade”, afirmou o presidente da Abipesca, apelando por uma linha de crédito emergencial e imediata.


Embargos e falta de acesso a outros mercados

A alternativa natural, a União Europeia, continua bloqueada ao pescado brasileiro desde 2017 por questões sanitárias. Ou seja, o país sequer preparou seu setor para explorar novos mercados nos últimos sete anos de embargo, mesmo diante de alertas constantes sobre os riscos de concentração.

O acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia pode oferecer alguma esperança, mas é uma solução para o médio e longo prazo. No curto prazo, o cenário é de urgência – não apenas financeira, mas estratégica.


Hora de repensar a política comercial do setor

Mais do que socorro financeiro, o episódio exige uma revisão profunda da política comercial brasileira para o setor pesqueiro. Continuar apostando todas as fichas em um único comprador é uma escolha de risco alto e consequências desastrosas – como agora se comprova. A crise atual não é apenas fruto de uma decisão protecionista dos EUA, mas da omissão do setor em construir rotas alternativas, ampliar a base de mercados compradores e garantir resiliência frente a turbulências externas.


É preciso, portanto, transformar essa crise em um ponto de inflexão: diversificar mercados, investir em sanidade e rastreabilidade para reabrir portas como a da União Europeia, e fortalecer a diplomacia comercial com foco específico no setor aquícola.

A dependência de um só mercado não é apenas um erro de estratégia — é uma ameaça constante à sobrevivência do setor.

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