top of page
Buscar

União para acompanhar os grandes.

Por Alexandre Guerra Espogeiro

A pesca industrial no Brasil vem passando por novos obstáculos. Porém, continuamos na luta para resolver problemas antigos e até crônicos para o nosso setor, muitos deles na base das informações necessárias para alcançarmos a tão buscada pesca sustentável.


A pandemia pela qual estamos passando com certeza pegou todos de surpresa e afetou os mais diversos setores econômicos nacionais e internacionais. No entanto, mesmo em meio ao caos, a pesca industrial conseguiu se manter (e até atingir) alguns avanços importantes para o desenvolvimento da atividade no Brasil.


Alguns setores, como dos pescados industrializados vendidos nos mercados, aumentaram suas vendas nos últimos meses. Até os mais atingidos pelas restrições oriundas da pandemia, no caso os pescados mais voltados aos restaurantes como os crustáceos, já conseguem enxergar uma saída e ter boas expectativas para o período pós- -pandemia - e claro, que todos esperamos que seja o mais breve possível.



Hoje, nós conseguimos identificar que a pesca industrial no Brasil não é tão diferente de outros países da América Latina - afinal, os problemas gerais do desenvolvimento do nosso setor afetam da mesma maneira vários países vizinhos.


Alguns exemplos que podemos citar é a falta de mão de obra qualificada nas embarcações pesqueiras, a criação de inúmeras áreas de proteção ambiental no ambiente marinho e a grande ameaça que a pesca ilegal, realizada principalmente por embarcações asiáticas, significa para as produções pesqueiras nacionais. Porém, a base das dificuldades do setor pesqueiro brasileiro se dá hoje pela falta de informações. Ou seja, continuamos trabalhando com estimativas de embarcações, capturas e produções, situação essa que vem nos prejudicando cada vez mais.



Um exemplo da grande bola de neve que a falta de estatísticas pesqueiras cria no Brasil são as listas nacionais de animais ameaçados de extinção. Não existe hoje no País um programa de investigação científica que seja capaz de identificar, analisar e realizar avaliações de estoques dessas espécies. Os pesquisadores que hoje se dedicam a fazerem esses estudos e a avaliarem as espécies que serão ou não incluídas nessas listas, dependem quase totalmente dos dados oriundos da atividade pesqueira, principalmente das informações dos mapas de bordo entregues pelas embarcações.


Ao mesmo que faltam essas informações gerais da pesca nacional, o problema se agrava quando pensamos nas espécies ameaçadas - por receio das multas milionárias que os pescadores e armadores recebem frequentemente, as espécies ameaçadas de extinção que não são incluídas nos mapas de bordo, são simplesmente descartadas, muitas vezes já mortas, sem registro nenhum. Dessa maneira, uma espécie que entra na lista nacional de espécies ameaçadas de extinção, tem uma chance mínima de ser retirada dela, pelo simples fato de não existirem informações atualizadas sobre o status de suas populações.


Além desses problemas já enfrentados ao longo dos anos, outras dificuldades têm chegado para o nosso setor, como é o caso da Portaria do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA, publicada no final de 2020, que exige que as embarcações pesqueiras sigam inúmeros critérios e requisitos higiênico-sanitários. A grande questão dessa Portaria é o tempo de um ano destinado para todas as embarcações se adequarem em meio a uma pandemia e a grande dificuldade que as embarcações de pequeno porte terão para atender a todos os critérios.


Outro exemplo são as grandes campanhas sensacionalistas que estão se tornando cada vez mais comuns nas redes sociais e que atingem diretamente o consumo de pescados no País. Essas informações distorcidas e nem sempre verdadeiras confundem consumidores que não estão familiarizados com a origem dos pescados e nem com a própria atividade pesqueira marinha nacional.


Por isso, precisamos da união do setor pesqueiro industrial para conseguirmos acompanhar os grandes países pesqueiros em busca da pesca sustentável. E os maiores interessados para que isso aconteça somos nós mesmos, que dependemos diariamente da nossa atividade no mar.


Campanhas de consumo do pescado, publicações verdadeiras e não sensacionalistas sobre a atividade pesqueira, estatísticas pesqueiras nacionais e gestão participativa e sustentável da pesca são pilares básicos que precisamos seguir em busca do desenvolvimento da pesca no País. Seguimos sempre com a missão de representar e defender o setor pesqueiro na promoção do desenvolvimento sustentável da pesca no Brasil.


Publicada na SeaFood Brasil 40 • Anuário 2021

Comments


bottom of page