Por Wilson Santos
A tradicional e histórica captura de Tainha que ocorre durante o seu ciclo reprodutivo nos estados de SC e RS tem forte impacto cultural , econômico e social principalmente no estado de SC.
Em qualquer gestão de um recurso da pesca extrativa é fundamental dispor de informações estatísticas com um razoável histórico , uniformidade na metodologia e da fonte e credibilidade.
Infelizmente temos muito pouca disponibilidade de dados confiáveis com histórico nas fontes tradicionais.
A tainha não foge desta realidade e a busca por informações estatísticas para montar um modelo matemático termina em uma verdadeira colcha de retalhos com diversas fontes e metodologias diferentes.
Entretanto o recurso tainha capturado durante o período reprodutivo tem uma característica única que deixa um rastro importantíssimo que são suas ovas exportadas .
O valor econômico deste produto é elevado fazendo com que em toda captura da tainha exista um verdadeiro garimpo na busca deste produto. Não existe tainha fêmea sem que seja realizada a extração da ova.
Em 2022 o valor de exportação de ovas congeladas foi de 35 dólares o Kg ou R$182,00/Kg. Como referência valor de comercialização da tainha inteira nas embarcações andou na faixa de R$ 7,00 / Kg.
Esta característica que acontece há mais de 25 anos na atividade, determina que a grande maioria das ovas extraídas tenham destino o mercado externo.
Como exemplo recente, vimos em 2022 que o relatório emitido pela secretária da pesca sobre a safra daquele ano informa uma produção industrial na extração das ovas de 180 toneladas.
Usando dados do sistema Comex do governo federal verifica-se uma exportação no mesmo ano de 152 toneladas. Ou seja , 84,4% da extração das ovas foram exportadas.
Os dados do sistema Comex tem um longo histórico, metodologia uniforme e total credibilidade.
Com estas informações e algumas poucas premissas consegue-se com um simples modelo matemático montar um longo histórico de capturas da tainha no período chamado de safra.
O primeiro gráfico abaixo mostra a captura ocorrida nos últimos 23 anos e uma projeção para 2023 dentro das determinações impostas para esta safra.
Observa-se claramente dois picos de supersafras nos anos de 2007 e 2018.
Para 2023 o valor de 67 toneladas é uma projeção considerando o que está liberado para as capturas neste ano.
Para 2023 foi liberado : 460 toneladas para anilhados e 1.134 toneladas para outros tipos de pesca que não tem controle de cotas. Total previsto de captura : 1.594 toneladas de tainha. Considerando o fator de 5% de ovas sobre o total do cardume e que 84,4% sejam exportadas (fator real de 2022)teremos a mais baixa exportação de ovas congeladas na quantidade de apenas 67 toneladas.
Este gráfico mostra uma projeção de capturas de tainha no mesmo período de 23 anos assim como a determinação governamental para 2023
O fator conservador usado no período 2000 a 2021 foi que 75% das ovas extraídas foram exportadas sendo que em 2022 e na projeção de 2023 foi usado o fator real definido no relatório da SAP em 2022 de 84,4%.
Se comparar as projeções de captura via ovas exportadas versus as projeções de capturas que determinaram o tamanho da biomassa atual e que são considerados nas definições das cotas, conclui-se que a via das ovas é cerca de 30% superior.
Se comparar a realidade de 2022 com as projeções de 2023 estabelecidas pelo Ministério da Pesca teremos uma redução de 2.009 toneladas na captura da tainha e uma redução de 85 toneladas na exportação de ovas congeladas. Uma redução de 56% na atividade.
Projeção de impacto negativo econômico de 35 milhões de reais.
Por Wilson Santos
Engenheiro Industrial Químico e Diretor Industrial da Coqueiro- Quaker por 25 anos. Atualmente na área de consultoria com empresa WS Consultoria. wsconsul58@gmail.com
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