Natal (RN)
Na última década, as exportações do atum pescado no Rio Grande do Norte vêm crescendo. Em 2021, o estado exportou 1,4 mil toneladas do peixe, com faturamento de US$ 14 milhões. De janeiro a abril deste ano, já foram exportadas 782 toneladas, com uma receita de US$ 7 milhões, um incremento de 30% em relação ao mesmo período do ano passado. Os dados são da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Norte (Fiern) e do Centro Internacional de Negócios do estado (CIN).
Mas antes de chegar aos pratos brasileiros e internacionais, o atum percorre um longo caminho. Primeiro, o barco pesqueiro espera o período da lua cheia, que é quando os peixes sobem para a superfície atrás de alimentos.
“Quando chega na fase da lua cheia, alguns atuns sobem para comer mais raso, então nós, pela tecnologia limitada que temos, capturamos neste período”, explica o presidente do Sindicato de Pesca do Rio Grande do Norte (SindiPesca), Gabriel Calzavara. Ele lembra que em outros países, como o Japão, a captura pode ser feita a até 350 metros de profundidade. “Os japoneses lançam 150 quilômetros de material com 3 mil anzóis e é lá onde estão os atuns”, explica.
No Rio Grande do Norte, a agroindústria captura o peixe em alto mar com várias artes de pesca. Uma delas é a espinhel - Longline , na qual é lançada uma linha de 120 quilômetros e 1.200 a 1.300 anzóis, que afundam numa área de 120 a 150 metros de profundidade. Essa tecnologia foi desenvolvida pelos americanos e foi adaptada para a pesca de atum aqui no Brasil.
As principais espécies de atuns que são capturadas na região são a albacora laje, albacora-branca e albacora-bandolim. Após a captura, os peixes são levados para a indústria e recebem a classificação comercial para, logo após, serem transportados para o mercado nacional e externo.
Representantes do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) estiveram em Natal e em Areia Branca, visitando instalações pesqueiras e indústrias de beneficiamento de atum no estado. A oportunidade também serviu para conversar com pescadores e representantes do setor para ouvir as principais demandas. Participaram representantes das secretarias de Aquicultura e Pesca (SAP), de Defesa Agropecuária (SDA), de Política Agrícola (SPA) e de Agricultura Familiar e Cooperativismo (SAF).
O secretário de Aquicultura e Pesca do Mapa, Jairo Gund, destaca que o Rio Grande do Norte é considerado atualmente um dos grandes produtores de tunídeos e o maior exportador de atuns do Brasil.
“Os atuns são espécies altamente migratórias, amplamente explorados pela pesca, com importância econômica e social para o mundo e especialmente para o Brasil, pois gera renda e emprego em várias regiões do Brasil com destaque para o litoral do nordeste brasileiro”, diz. Na região, Bahia, Ceará e Rio Grande do Norte são os estados com maior número de embarcações autorizadas na pesca atuneira.
Classificação
O médico veterinário César Calzavara, 41 anos, trabalha com qualidade de pescado há 16 anos. Ele explicou que a classificação do atum é muito específica e diferente da classificação de outros peixes. “Utilizamos um tubo de inox que serve para furar o peixe e tirar uma amostra da carne. Conferimos a transparência, o brilho, a textura e a cor dessa carne, mas principalmente a transparência, ela vai dizer se o peixe tem durabilidade maior ou não”.
Cada peixe é classificado individualmente com códigos e essa classificação é entregue ao dono do produto, que decide para onde ele irá, qual o preço, se vai exportar ou permanecerá no mercado interno.
Todo peixe engorda antes do período reprodutivo para se preparar para a migração ou para gastar na reprodução. O atum é um grande migrador, ele sai da costa da África e desce pela costa do Brasil no Nordeste e desce para o extremo Sul, isso para ir para as águas mais frias onde encontra mais abundância de alimento. Engorda lá e faz a migração de retorno voltando para as águas mais quentes onde ocorre a reprodução.
Everton Padilha, 39 anos, é empresário de pesca e tem história com a atividade. Seu avô passou o bastão para o pai e, em 1996, a empresa familiar foi aberta. “Nosso método de captura é a pesca com espinhel. Nossa empresa tem cinco barcos e hoje empregamos 75 funcionários e temos cerca de 50 a 100 trabalhando indiretamente para fazer toda a operação girar. O nosso principal mercado é o americano, cerca de 70% a 80% da nossa produção é voltada para lá”, disse.
Pesca artesanal
O atum do Rio Grande do Norte também passou a ser capturado por outra arte de pesca que foi chamada popularmente de cardume associado ou pesca de sombra, que é quando junta o cardume em torno do barco. Essa técnica começou no estado do Espírito Santo e foi levada para Areia Branca (RN), localizada na região do litoral.
Lá a pesca de atum é completamente artesanal e foi crescendo por conta própria. Hoje o município tem estrutura para receber o pescado após a chegada dos barcos do mar, com cinco frigoríficos, cinco cais, duas fábricas de gelo em barra e duas fábricas de gelo escama.
Pedro do Atum, morador da cidade há 10 anos, foi um dos responsáveis por revolucionar a pesca de atum na região, levando o governo federal para licenciar os barcos pesqueiros. “Eu vivo disso, esse é o meu trabalho e a minha vida. A minha família vive da pesca e tenho muito orgulho da atividade. Estudo o atum há vinte e dois anos e por isso vim para o Nordeste, e conseguimos mudar a vida de muita gente”, comemora Pedro.
Em 2014, o quantitativo de frota operante era de 53 embarcações, sendo que 40 eram embarcações de fora. Mas esse número mudou e agora são 64 embarcações operantes no município devidamente licenciadas.
Pioneiro na produção de atum, Tavinho pescador começou em 2010 pescando lagosta. Antes, ele conta, os barcos eram pequenos e a quantidade de gelo não era muito. “Essa atividade significa muito pra mim. O peixe vai para São Paulo e até para os Estados Unidos. Eu dou emprego para 40 pessoas diretamente e 20 indiretamente”.
Uma portaria de 2018 viabilizou a autorização de embarcações que atuavam há mais de uma década na pesca de sombra. O ordenamento dessa modalidade implica em várias medidas de gestão que fomentam a sustentabilidade da atividade, como quantitativo de embarcação, área de pesca, tipo de petrecho, rastreamento da embarcação e informe da produção.
Cenário internacional
Membro desde 1969, o Brasil participa ativamente da Comissão Internacional para a Conservação do Atum no Atlântico (ICCAT), que é um fórum de discussão onde, subsidiados por pesquisadores brasileiros, são sugeridas diversas recomendações como as cotas de captura, medidas de limitação de esforço e controle da pesca de atuns para uma melhor gestão do recurso.
As exportações de pescado do Brasil para a União Européia estão suspensas desde 2017, após questionamentos apresentados por autoridades do bloco depois de uma missão de auditoria. Considerando a intenção de retomada das exportações de pescado e seus produtos, a Secretaria de Aquicultura e Pesca (SAP/MAPA) vem trabalhando em conjunto com a Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA/MAPA) na elaboração e implementação de medidas para controle higiênico-sanitário da cadeia produtiva de pescado nacional, em atendimento às recomendações da autoridade sanitária da União Europeia.
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