Por José Jorge Neves Filho*
O setor pesqueiro catarinense, assim como toda atividade econômica, sofreu com os reflexos da pandemia da Covid-19. No começo do ano passado, logo que surgiram os primeiros decretos com restrições das atividades comerciais, o impacto na cadeia produtiva da pesca foi muito grande.
O Sindicato dos Armadores e Indústrias da Pesca de Itajaí e Região (Sindipi) realizou um levantamento interno no qual foi constatado que mais da metade dos armadores tiveram fortes prejuízos devido às restrições impostas. Resultado disso é que algumas embarcações tiveram de parar de pescar para conter os prejuízos, uma vez que, devido à pandemia, leis municipais e estaduais determinaram o fechamento de comércios principalmente nos meses de abril a junho de 2020.
Os armadores mais afetados foram os que tinham como clientes peixarias, pequenos mercados, feiras e restaurantes. Visto que, o pescado vendido para o setor de gastronomia geralmente possui um valor elevado devido às exigências de qualidade e por ser um produto fresco, os armadores ficaram impossibilitados de vender o pescado para este setor e tiveram de colocar um produto de alta qualidade nas indústrias a menos da metade do valor.
Além disso, as próprias indústrias tiveram que trabalhar com capacidade reduzida, o que trouxe dificuldade em obter insumos de outros setores da cadeia de abastecimento da pesca, como de logística, abastecimento de óleo, gelo e equipamentos.
A pandemia ainda alterou os canais de comercialização e a forma de consumo do pescado pela população, podendo ser observado um aumento na aquisição de peixe congelado. O pescado enlatado também teve grande importância nesse período, uma vez que a sardinha em lata faz parte da cesta básica alimentar e ajuda a atender as classes mais baixas da população brasileira.
As atividades do Sindipi também tiveram de ser adaptadas para essa nova realidade que estamos vivendo. As reuniões, antes realizadas presencialmente e sempre com a participação de nossos associados, tiveram de observar todos os protocolos de segurança devido à pandemia e muitas delas migraram para o virtual. Isso acabou permitindo que participássemos de mais reuniões e discussões sobre os múltiplos temas que se relacionam com a atividade pesqueira: ao todo, foram mais de 100 reuniões no período, entre o formato virtual e presencial, além do acompanhamento de webinars, consultas públicas e treinamentos de pescadores para boas práticas de higiene e manuseio do pescado a bordo.
Também participamos ativamente em parceria com o Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas de Pesca de Santa Catarina (Sitrapesca) para que a administração pública municipal de Itajaí e região priorizasse a vacinação dos pescadores, nossos parceiros mais importantes - afinal, sem eles não há pescarias.
Apesar das dificuldades, perseveramos. O setor pesqueiro mostrou que tem resiliência e superou mais esse desafio imposto pela pandemia - mesmo com todos os problemas antigos que já possuíamos, como áreas de proibição de pesca e proibição de captura de algumas espécies. Já em 2021, podemos perceber um novo cenário, com aumento da demanda de pescado e normalização das operações de pesca.
Publicada na SeaFood Brasil 40 • Anuário 2021
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