Em entrevista para o site Piscishow & avisuleite, Jorge Neves , expõe as conquistas do setor e seu gargalos, a exemplo de restrições; burocracia e equívocos do Governo Federal.
Por Antônio Oliveira com a colaboração de Jéssica Feller, assessora de comunicação do SINDIPI
Presidente, em consequência da pandemia, o ano de 2020 não foi fácil para diversos segmentos econômicos do Brasil. Mas, para o setor de aquicultura (peixes de cultivo), ele foi até generoso. O setor cresceu, de 2019 para 2020, quase 6%. E na indústria da pesca marinha, como o setor reagiu a essa crise?
José Jorge Neves – Os anos de 2019 e 2020 não foram ruins para nós da pesca selvagem. O problema é que, infelizmente, existem várias restrições no setor que culminam no descarte de peixes que poderiam ser consumidos, mas que temos que descartar em função da Lei 445. Se nós pudéssemos trazer todos os peixes que nós descartamos, com certeza, a história seria outra. A seu ver, qual seria a perspectiva da pesca marinha neste ano, com a persistência da pandemia e consequente crise econômica?
José Jorge Neves – Enquanto não forem revistas essas restrições à nossa atividade de pesca, não vai ter melhora. A única solução é acabar com essas restrições e fazer novos estudos verdadeiros. A indústria da pesca marinha tem sofrido também algumas restrições por parte de alguns países importadores de pescados. Como tem sito as articulações do setor, junto ao Ministério da Agricultura e dos importadores para reverter este problema? José Jorge Neves – Na verdade, nunca houve restrições à nossa indústria de pesca lá fora. O nosso peixe é muito bem visto, muito bem quisto no exterior. Todos querem nosso peixe, na Europa e no mundo. O que houve, em certa época, foi a proibição de outros produtos. Aí, então, o Mapa (Ministério da Agricultura) proibiu as nossas exportações. Ou seja, fomos usados como moeda de troca de proteína e até hoje ainda o somos. Os pescadores, de uma forma geral, estão tendo limites de pesca na faixa brasileira. Até quando isto, presidente? José Jorge Neves – Infelizmente, enquanto existirem essas ONGs (organizações não governamentais) e outros interesses obscuros particulares, nós vamos sempre sofrer com isto aí. Mas, o que a gente precisa mesmo, é que a SAP (Secretaria da Aquicultura e Pesca/Mapa) tome uma atitude firme e forte e faça o ordenamento pesqueiro. Aí, sim, nós vamos ter os limites e áreas certos. Enquanto isto não for feito, persiste essa guerra. Uma decisão recente do STF, acatando pedido do Ministério da Agricultura, autorizou a importação do camarão selvagem da Argentina. Quais seriam as consequências desta decisão para a indústria da pesca na sua região e, a seu ver, no restante do país?
José Jorge Neves – Eu achei muito estranha esta decisão do STF, pois já existe uma IN (Instrução Normativa), de 2018, proibindo a importação de qualquer produto de países que tenham menos cuidados sanitários que o nosso - dizendo à grosso modo. Mas isto é muito estranho porque vemos o seguinte: sai uma norma que nós não podemos pescar esse mesmo camarão, que tem uma época de safra na nossa Costa. Aí, daqui a pouco, se abre a importação desse mesmo camarão, prejudicando também o cultivo. São muito estranhas essas decisões, o Mapa dar parecer favorável para essa importação, se dentro do próprio Mapa existe uma proibição. Como já disse antes, é estranho. É estranho não poder pescar esse camarão, é estranho liberar a importação desse camarão. Mas, fazer o que? Países concorrentes do Brasil, no setor de pesca marinha, têm investido pesado na modernização de sua frota e parque industrial. Maioria dessas indústrias tem anunciado medidas de menor impacto ambiental marinho e em seus continentes. No Brasil, há a demanda entre o Governo do Rio Grande do Sul, Justiça e pescadores artesanais em torno da pesca de arrasto. Qual é sua opinião em relação a esta demanda?
José Jorge Neves – Os nossos barcos, principalmente os do estado de Santa Catarina, são super modernos e de acordo com nossas águas. A gente vê muitas embarcações de fora cruzando os oceanos para pesca em outros países, que não é o nosso caso. Aqui (na Costa brasileira) não tem aqueles mares fortes e, assim, eles têm que usar embarcações super poderosas. Então, um dia dizem que nossos barcos são predadores; outra hora querem dizer que nossos barcos são arcaicos. É estranho, né? Dependendo dos interesses, podem dizer que nós temos barcos feios, ou podem dizer que nós temos barcos predadores. Mas eu posso te garantir que o nosso parque industrial é uma das melhores do mundo, tanto as nossas indústrias de congelamento, como a de enlatamento. E, também, os nossos barcos, além de serem modernos, também seguem o projeto Rebyc , que o mundo está usando. Então, nessa parte, nada nos assusta.
Aliás, vejo no site do Sindipi um banner estampando o lema “Ter direção é o melhor caminho – pesca sustentável e rentável”. Na prática, o que o Sindicato propõe? José Jorge Neves – A bandeira do SINDIPI é que todas as suas decisões sejam tomadas com base em pesquisas e conhecimentos práticos. Ou seja, a Academia, que é a parte teórica, junto com o setor produtivo, que tem o conhecimento prático. Enquanto não houver esta união da teoria com a prática, a coisa não vai para frente. Porque, simplesmente, sentado numa mesa ou numa universidade, pessoas que nunca entraram num barco de pesca, não sabe o que é uma pesca e quer dar palpite, dizer que tal peixe está em extinção ou não. Você não pode trazer um peixe que poderia ser consumido, tem que descartá-lo. Como é que vai entrar em estatística, se o pescador se vê não obrigação de jogar o peixe de volta ao mar? Então, enquanto não houver este diálogo entre as duas partes fica ruim. Por isto nosso lema é isto “Direção é o melhor caminho para a pesca sustentável e rentável” Os governos federal e o do seu estado têm correspondido com as expectativas da indústria da pesca? José Jorge Neves – Da parte do Governo Federal, este deve muito, mas muito mesmo, para a nossa pesca comercial. Agora, quanto ao governo de Santa Catarina, ele tem ajudado muito o setor, é parceiro nosso. É quem nos tem nos ajudado. Se não, estaríamos todos quebrados. Vários setores de produção de alimentos estão se preparando para garantir o alimento da população de todo o planeta – a chamada “segurança alimentar” – nos próximos 20 anos. E o seu setor, como tem se preparado para atender a demanda global nestas próximas décadas? José Jorge Neves – Como disse antes: enquanto nós estivermos jogando fora um alimento rico e saudável, como é a pesca de alto-mar, simplesmente por causa de uma lei que foi feita, sem estudo nenhum – pode-se dizer -, sem o setor estar junto, estaremos perdendo tempo e produtos alimentícios. E, hoje, o setor diz que tem cações e outras espécies sobrando no mar e ninguém nos escuta. Vai ser difícil gerar mais alimentos bons e saudáveis como o nosso. Por isto é que a gente pede que a SAP e o Governo Federal assumam essas posturas, porque o interesse do setor é que tenhamos sempre sustentabilidade, responsabilidade e a rentabilidade, permitindo que a gente possa girar esta cadeia produtiva direta que são os pescadores e os armadores; a indústria da pesca; os caminhoneiros; os restaurantes; lojas; hotéis, enfim, todos que integram a cadeia da pesca. Então, é isto o que a gente espera: que nesses próximos vinte anos a gente possa estar produzindo alimentos saudáveis com a ajuda do governo federal que já está na hora de se mexer. Presidente, obrigado por esta entrevista e o espaço está disponível, caso o senhor queira acrescentar algo mais. José Jorge Neves – Eu quero deixar a todos que o lema do SINDIPI sempre é – e o meu, particularmente -, a união do povo das águas. Unir todos que são do setor das águas. Só assim conseguiremos gerar um alimento saudável, não só daqui a vinte anos, mas para sempre, com sustentabilidade para o hoje o amanhã e o sempre.
Criado em 1980, o Sindicato dos Armadores e das Indústrias da Pesca de Itajaí e Região (SINDIPI), tem grande responsabilidade com a cadeia da pesca marítima na região de Santa Catarina, uma das maiores na pesca brasileira, gerando produtos alimentícios, empregos e renda para a região e para o Brasil.
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